2020-06-10; covid19, diretrizes, Centro, Campina-Grande
A crise sanitária enfrentada diante a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) está afetando as condições de vida na cidade e aprofundando as desigualdades sociais. No estado da Paraíba, a disseminação da doença ocorreu a partir das maiores cidades, João Pessoa, Campina Grande, expandindo-se para as cidades da região imediata (MIRANDA et al, 2020, pág.3). Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (2020), em Campina Grande, até o dia nove de setembro, já são 12.490 casos confirmados da doença e 343 mortos. É importante destacar que a cidade tem um papel polarizador para a região, concentrando no bairro do Centro atividades comerciais e de serviços, que atendem também municípios do interior do nordeste.
Apesar do cenário crítico que ainda vivemos, frente ao atual contexto político, o poder público municipal vem flexibilizando as medidas de restrição. Além da negligência aos territórios vulneráveis, as ações até agora engendradas, pouco consideram as intervenções urbanas como forma de combate a disseminação da doença. Nesse sentido, articulado aos estudos do Nacto (2020), este trabalho apresenta algumas diretrizes de intervenção considerando a realidade de Campina Grande.
A área de intervenção é o Calçadão Jimmy de Oliveira, localizado na Rua Cardoso Vieira, no bairro do Centro. Inaugurado em 1975, o espaço é parte da história e da cultura campinense, e mais do que um lugar de passagem que concentra atividades de comércio e serviço, é espaço de encontro e permanência, especialmente para a população mais idosa¹ da cidade.
Considerando a relevância do calçadão para a dinâmica das ruas da área central, a proposta compreende também as ruas do entorno do quarteirão em que ele está localizado.
O diagnóstico da área demonstrou a necessidade de intervenção em pelo menos seis (tipos de) áreas que serão descritas a seguir. Pelo menos três delas estão localizadas no Calçadão, são os cafés e lanchonetes, fiteiros e loteria. As faixas de pedestre, paradas de ônibus e calçadas são outros pontos de intervenção e estão situadas no decorrer das ruas.
Os cafés e lanchonetes com interface para o Calçadão são pequenos e possuem balcões e mesas que dificultam o distanciamento social e favorecem aglomerações. A proposta é transferir provisoriamente parte das mesas das lanchonetes para o centro da área, nas proximidades de bancos e árvores já existentes. O posicionamento central está ligado a proteção do fluxo de pedestres nas laterais, e o aproveitamento do mobiliário existente, com possibilidade de sombreamento natural. A distribuição procurou diminuir o impacto aos usos pré-existentes ao posicionar e inserir um número de mesas adequado ao distanciamento social dentro dos comércios e no Calçadão.
A loteria é um outro ponto convergente de pessoas. Suas dimensões e o ordenamento e direção das filas, que se estendem ao espaço público conforme os caixas de atendimento, geram uma dinâmica que atrapalha o fluxo de pedestres e inibe o distanciamento social. A solução apresentada substitui as quatro filas por uma fila única delimitada por balizas. Ela também restringe a posição dos usuários às marcações do piso, conforme prevê o Decreto estadual nº 40.304/2020.
As filas de atendimento dos fiteiros do Calçadão também causam transtornos a circulação dos pedestres e dificultam o distanciamento social. Para resolver o problema, também se utiliza como estratégia a adoção de um distanciamento mínimo de 1,5m (Decreto estadual nº 40.30/2020) em relação ao atendimento e a marcação da posição dos clientes no piso. As soluções de orientação das filas estão relacionada a posição de cada fiteiro. Para alguns foi proposta a utilização de pedestais separadores, entre o fiteiro e os clientes, para que pedidos possam ser realizados respeitando o distanciamento mínimo mencionado anteriormente.
As calçadas das ruas Marquês do Herval e Venâncio Neiva são estreitas para o fluxo de pedestres exigido. Em ambas às ruas propõe-se usar uma faixa de rolamento para estender as calçadas. Apesar dessa solução em comum, elas têm dimensões e usos diferentes que demandam descrições específicas.
Dividida por um canteiro central, apenas um sentido da Rua Marquês do Herval é parte do recorte da área de intervenção. Ele é composto por duas faixas de rolamento para veículos e outra dedicada ao estacionamento com áreas para: i - descarga de mercadoria; ii - praça de táxi; iii - praça de moto táxi; iv - paradas de ônibus. Diante a extensão da calçada, a faixa de estacionamento passou a ocupar a faixa vizinha, restando apenas uma outra faixa para o tráfego de veículos. A ideia é priorizar o pedestre e garantir a proteção da calçada ampliada, a partir da formação de uma barreira com os veículos estacionados. Procura-se também reduzir potenciais danos de remoção para os usuários e a dinâmica da área.
A Rua Venâncio Neiva possui duas faixas de rolamento para o tráfego de veículos. Outras duas faixas estão localizadas às margens das calçadas e são destinadas ao estacionamento de carros e motos particulares, com apenas uma praça de táxi (08 carros). Considerando as prioridades apresentadas anteriormente, bem como a ampliação da calçada, propõe-se também restringir o tráfego de veículos para uma única faixa, evitando altas velocidades na via. A proposta é também que a faixa de estacionamento seja utilizada como uma espécie de barreira entre a faixa de rolamento e a calçada estendida, protegendo os pedestres do tráfego.
As faixas de pedestre do entorno analisado variam entre 1,5m (em ruas mais estreitas) e 3,0 m (em ruas mais largas). Sabe-se que o fluxo de pedestres é intenso durante o horário de funcionamento do comércio e que o atual dimensionamento das faixas dificulta o distanciamento social. Nesse sentido, propõe-se o alargamento das faixas, dobrando o tamanhos das larguras, de modo a permitir uma travessia adequada ao contexto da pandemia.
As paradas de ônibus da Rua Marquês do Herval também concentram pessoas de forma inadequada. Assim como no caso das loterias e fiteiros, procurou-se ordenar as filas, que com a ampliação da calçada, passaram a ocupar parte da faixa antes dedicada ao estacionamento dos ônibus.
Ressaltamos que possíveis intervenções não devem se restringir a esse estudo. Especialmente porque é necessário um amplo diálogo com os usuários da área, de modo a otimizar as propostas e minimizar impactos negativos. Além disso, destacamos o papel da informação e fiscalização, tendo em vista que, para além das intervenções, a efetivação das medidas depende da adesão do distanciamento social por parte da população.